30 setembro 2009

A inocência de acreditar

Gostava que houvesse uma aragem qualquer que me explicasse esse teu sorriso e outra que te explicasse, sem te magoar, o meu silêncio. Gostava de aprender o trejeito dos teus lábios, a maneira dos teus olhos, e to lembrar quando tivesses a minha idade. Fui um dia a tua inocência. E dela ficou-me a grande inocência de acreditar.”

José Luís Peixoto, in Nenhum Olhar

Tempo e sombra

O tempo escorre pela sombra da manhã

tão intenso que queima a pele e o sentir

Nada existe

Tudo se sente

Nada é

Tudo já foi


29 setembro 2009

Mafalda



A bonequinha irreverente de Quino celebra hoje 45 anos.
Parabéns Mafalda! :)

28 setembro 2009

O amor em visita


E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.

Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Herberto Hélder in Ofício Cantante

09 setembro 2009

Here I go...


During the next couple of weeks,

I'll be somewhere around these sceneries...



And with this inspiring book on my hands all the way

Tudo o que sempre quis


Perder-me na contemplação do mundo,
na leveza da existência,
na distância de um olhar


08 setembro 2009

Amazing Wallpapers

07 setembro 2009

Through someone's eyes

Photo by Alina Lebedeva

They either welcome or eliminate long before words are even exchanged.

Eyes can be overwhelming because... well...

when they're special... they can touch your soul.

......

olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.”


José Luís Peixoto

04 setembro 2009

Reinventing what people want


Unfortunately, the seas are no longer calm. This will cause some ships to sink, but opportunity does not go away. People still buy things, they just become more particular about what they need.”

Innovation is not about market timing. It is about creating something that fulfills an unmet need.”

Jeremy Gutsche, in Exploiting Chaos

Incredibly true


«O que elas são depende por completo da pessoa, como é hábito. O que é pornografia para um homem, faz-se riso do génio para outro. Ao que se diz, a própria palavra significa «pertencente às prostitutas» - o sinal da prostituta. Mas o que é hoje em dia uma prostituta? Se for uma mulher que exige dinheiro ao homem para ir com ele para a cama – a verdade é que em tempos idos muitas esposas se venderam, e muitas prostitutas existem que se entregam de graça quando para aí lhes dá. Se uma mulher não guardar em si um leve traço de prostituta, regra geral é insonsa e vulgar.
E provavelmente muitas prostitutas têm um leve traço de generosidade feminina num ponto qualquer do seu carácter. Por que havemos de ser tão drásticos e tão severos? A lei é uma coisa enfadonha, e o seu julgamento nada tem a ver com a vida.»

D. H. Lawrence

03 setembro 2009

Camélia



Pesa a carne, curva-me

o cansaço de sonhar. Sou um homem

dobrado até ao solo

pela ingente necessidade de repousar.

Pesa-me a alma

(...)

Como posso escrever que a alma pesa

quando num retrato,

uma camélia branca sorri?


Ivo Machado, em "Electrocardialma"

02 setembro 2009

Desenho e forma

Não quero que tenhas uma forma, que sejas precisamente o que
vem atrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem
no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitetura do nada,
acendendo suas lâmpadas no meio do encontro.
Todo amanhã é o quadro onde te invento e te desenho,
disposto a te apagar, assim não és, muito menos com esse cabelo liso,
esse sorriso.
Busco tua soma, a borda da taça onde o vinho é também a lua e o espelho,
busco essa linha que faz o homem tremer
numa galeria de museu.
Além do mais te amo, e faz tempo e frio.

Julio Cortázar

01 setembro 2009

Geração da Matilha

"No início do século 21, o mundo encontra-se infectado pelos vírus da padronização, da normalidade acrítica e da resignação. O paradigma neo-liberal, nascido na década de oitenta do século passado, levou ao seu esplendor o acrónimo T.I.N.A. (There Is No Alternative), espécie de slogan panfletário que resume, de uma forma mordaz, os ideais do consenso de Washington. Esta ordem das coisas, que de natural pouco tem, trouxe consigo as democracias decadentes (bem longe dos ideias gregos ou mesmo das teses contratualistas de Rosseau), políticos incompetentes, socialismos bacocos e…um grande vazio. Nas relações pessoais, o ideal é o da normalidade; o padrão torna-se norma de conduta e qualquer desvio é olhado de soslaio, com desconfiança. O hiper-consumismo faz esquecer os valores crus, as emoções à flor da pele. O amor é, agora, palavra para novelas, e o ódio serve para ilustrar os fait-divers jornalísticos. Nada é vivido com a intensidade das emoções. A sintaxe toma o valor da semântica e as palavras valem pela sua aparência. No entanto, um grupo de pessoas resiste a este estado de coisas: vivem a vida pela vida, com a intensidade de um poeta maldito, ou de um actor suicidário a diletância de um saltimbanco ou a espontaneidade de um marinheiro bêbedo. É uma geração de gentes, mas não separadas pela idade. O que os junta são as emoções, a forma como as vivem e delas sugam a vida: o amor pelo amor, a paixão pelo ódio, a volúpia do suor e a sensualidade do sangue. Tal como os caninos, esta geração vive em matilha e cada cão é a liberdade. É esta a GERAÇÃO DA MATILHA…"


Mundo Cão no MySpace: http://www.myspace.com/mundocao