"Estamos todos habituados a
considerar-nos como primordialmente realidades mentais, e aos outros como
directamente realidades físicas, para efeitos nos olhos dos outros; vagamente
consideramos os outros como realidades mentais, mas só no amor ou no conflito
tomamos verdadeira consciência de que os outros têm sobretudo alma, como nós
para nós.
Perco-me, por isso, às vezes, numa imaginação fútil de que espécie
de gente serei para os que me vêem, como é a minha voz, que tipo de figura deixo
escrita na memória involuntária dos outros, de que maneira os meus gestos, as
minhas palavras, a minha vida aparente, se gravam nas retinas da interpretação
alheia.
(…)
Mas de qualquer modo, não importa, porque, de qualquer modo,
nada importa. Tudo isto, todas
estas considerações extraviadas da rua larga, vegeta nos
quintais dos deuses exclusos como trepadeiras longe das paredes.
E sorrio,
na noite em que concluo sem fim estas considerações sem engrenagem, da ironia
vital que as faz surgir de uma alma humana, órfã, de ante dos astros, das
grandes razões do DESTINO."
Fernando Pessoa em “O Livro do
Desassossego”
2 Comentários:
Também adoro ler Fernando Pessoa (tu sabes!).
Esqueci-me a dizer que ofereço-te o meu award com muito carinho. :)
Bjinhos de luz :)
Parece que F.Pessoa nos cativou às duas :))
Obrigada pelo award! Tenho de ir buscá-lo ao teu blogue para copiar, certo?
Beijinhos
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