21 agosto 2009

O amor dos homens

(...)

Vejo a redoma de ar

Que te circunda – o espaço

Que separa os nossos tempos. Tua forma

É outra: bela demais, talvez, para poder

Ser totalmente minha. Tua respiração

Obedece a um ritmo diverso. Tu és mulher.

Tu tens seios e lágrimas e pétalas. À tua volta

O ar se faz aroma. Fora de mim

És pura imagem; em mim

És como um pássaro que eu subjugo, como um pão

Que eu mastigo, como uma secreta fonte entreaberta

Em que bebo, como um resto de nuvem

Sobre que me repouso. Mas nada

Consegue arrancar-te à tua obstinação

Em ser, fora de mim - e eu sofro, amada

De não me seres mais. Mas tudo é nada.


Vinicius de Moraes em “O Operário em Construção e Outros Poemas


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