01 junho 2006

Necessidade de receber

“Tenho conhecido muitas pessoas que se preocupam com os outros, que
são extremamente generosas na hora de dar, e que encontram um profundo prazer quando alguém lhes pede um conselho ou apoio. Até aí tudo bem – é óptimo poder fazer o bem ao nosso próximo.
Entretanto, tenho conhecido muito poucas pessoas que são capazes de receber algo – mesmo quando lhes é dado com amor e generosidade. Parece que o acto de receber faz com que se sintam numa posição inferior, como se depender de alguém fosse algo indigno. Pensam: “se alguém está nos dando algo, é porque somos incompetentes para consegui-lo com o próprio esforço”. Ou então: “ a pessoa que me dá agora, um dia irá cobrar com juros.” Ou ainda, o que é pior: “eu não mereço o bem que me querem fazer.”

Por que agimos assim? Porque nos custa entender que este universo é feito de dois movimentos? O primeiro é a expansão, rigor, disciplina, conquista; o segundo é a concentração, meditação, entrega. Basta olhar o nosso coração para compreender que são estas duas energias que o fazem bater, contrair-se e expandir-se no mesmo ritmo. As muitas estrelas do céu estão emitindo luz, mas ao mesmo tempo estão sugando tudo à sua volta, naquilo que é conhecido pelos físicos como força de gravidade. Assim, os actos de dar e de receber, embora sejam aparentemente opostos, fazem parte do mesmo e contínuo movimento.
Não é melhor quem dá com generosidade, nem é pior quem recebe com alegria.
O amor é, justamente, fruto destas duas coisas.”

Paulo Coelho

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